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24 de maio, dia do telegrafista

A telegrafia, criado em 1843, foi o primeiro meio de comunicação a distância, onde inicialmente era transmitido por fios.

Em 1896 o brasileiro Padre Landel de Moura fez os primeiros testes da telegrafia sem fio por meio de ondas eletromagnéticas. Entretanto foi o italiano Giuseppe Marconi, que também se dedicava a esse invento, foi quem conseguiu patenteá-lo em seu nome.

Já em 1900 as embarcações marítimas receberam tecnologia.

Durante todo o século, de 1900 a 2000, a TSF (telegrafia sem fio) foi o principal meio de comunicação em todo o mundo e apenas no ano de 1999/2000 foi que este meio de comunicação, que vinha sendo utilizada apenas na marinha mercante, foi encerrado.

A figura do profissional radiotelegrafista que já vinha agonizando, encerrou-se definitivamente no final deste século.

Profissionalmente desaparece, mas sobrevive até hoje como grande Hobby dentre os homens da comunicação do “ponto e traço”, mais conhecido como Código Morse.

Os mesmos migraram para o radioamadorismo, onde cultivam tal prática com grande amor e alegria, conversando diuturnamente como lazer, além de estarem aptos a prestarem serviços de utilidade pública em caso de algum tipo de colapso tecnológico/satelital.

Além do mais, esses abnegados e saudosistas não deixam o Código Morse morrer. Muito pelo contrário, sempre formam outros telegrafistas através de ensinamentos práticos aos que desejam conhecer esse meio.

Um meio de comunicação criado no século de 1800, mas sem data para seu fim.

O telegrafista morre, mas o Código Morse não!

Em código morse:

—- “homenagem aos radiotelegrafistas do Brasil e do mundo. Parabéns. py2ms Dary”—-

Escritor assisense lança o livro “Do Telégrafo à Internet”

O jornalista e escritor assisense Marcos Barrero lança nesta quarta-feira, dia 9 de dezembro, em São Paulo, o livro “Do Telégrafo à Internet” – uma biografia de um dos pioneiros das telecomunicações no Brasil.
Dary Avanzi começou sua trajetória em Assis, aos 13 anos, em 1956, na função de telegrafista da Estrada de Ferro Sorocabana. A partir de então, teve a oportunidade de operar desde o telégrafo até à internet rápida dos dias atuais, em seis décadas de atividade ininterrupta. Hoje, aos 73 anos, esse pioneiro e fundador do Grupo Avanzi, por fim, vê sua trajetória eternizada numa biografia, na qual sua história se mistura à da própria comunicação no país.
Marcos Barrero – que ainda este ano lançará o livro de poesias “Para machucar meu coração” (Editora Patuá) – apresenta na obra a fascinante trajetória de Avanzi.
Ele sempre exerceu atividades voltadas para a área de telecomunicações, começando com a telegrafia, da qual é especialista e sobre cujo tema até hoje dá palestras.
Avanzi acompanhou diversos momentos nos quais tanto a telegrafia como os outros meios de comunicação fizeram história no país e no mundo.
Na era digital, viu de perto todas as pesquisas para o funcionamento do sistema de fax, telex por micro-ondas, transmissões por reflexão lunar (usando a lua como antena), comunicação via satélite e monitoramento de várias naves espaciais. Alcançou ainda o desenvolvimento do robô mecânico que se encontra em Marte, denominado Curiosity/Rover, responsável por transmissões via rádio por teclado através de software específico.
Para o biografado, a obra é um presente para os apaixonados por telecomunicação. “O intuito do livro é contar, não apenas a minha trajetória profissional, mas a da própria comunicação, mostrando tudo que já enfrentamos ao longo dos anos e, principalmente, o caminho percorrido para chegarmos até aqui”, conta.
O livro conta ainda com páginas ilustradas por imagens de documentos profissionais de Avanzi e equipamentos operados ao longo de sua carreira.
Segundo o autor, o livro tem uma grande importância histórica para o setor. “Dary é uma das personalidades mais emblemáticas da história da telecomunicação no Brasil e no mundo. Ele é uma referência na área e sua experiência merecia um registro à altura de sua contribuição para o universo das telecomunicações”, finaliza Barrero.
O evento, que ocorre em São Paulo, contará com a presença de Dary Bonomi Avanzi e do autor Marcos Barrero.

TRECHOS:

O amigo de Assis
“Em meados dos anos 1960, nos tempos em que seus hábeis dedos manipulavam os telégrafos com fio da Sorocabana em Presidente Prudente, Dary arrumou um amigo em Assis – o colega telegrafista João Carrasco Neto. “Trafegávamos todos os dias pelo telégrafo. O Carrasco era um dos telegrafistas mais rápidos que conheci na transmissão. Corria muito. Sua média de produção era de pelo menos 50 palavras por minuto. Poucos conseguiam manter a mesma velocidade que ele impunha no recebimento de uma mensagem”, recorda Dary.
Em 1965, Dary afivelou as malas para São Paulo. Foi tamborilar a maquininha na central de telégrafo da estação Júlio Prestes. Carrasco aparecia por lá.
Mais tarde, o setor foi transferido para o bairro da Barra Funda. “O João foi um companheiro muito bom. Fui duas vezes almoçar na casa dele. Morava no bairro do Imirim, na zona norte de São Paulo. O filho Walcyr devia ter na época uns 15 anos”, conta Dary. Anos depois, o amigo montou um bar na Rua Clélia, na Lapa.
Dary frequentou pouco o balcão da Lapa. A última vez em que esteve com João não foi uma visita agradável. O amigo estava doente, num leito da Santa Casa paulistana, no bairro de Higienópolis.
Era 1975. Quando Dary abriu a porta do quarto, João, deitado na cama, se espantou e disse:
– Esperava qualquer um, menos você, Dary.
– Por quê?
– Você tem quatro empregos, fica difícil achar tempo pra me ver.
Foi a última vez que os amigos se encontraram.
Em 1976, Dary pediu demissão da Fepasa e nunca mais ouviu alguém falar em João Carrasco. “Só soube da morte dele muito tempo depois, pelas colunas que seu filho, Walcyr Carrasco, o famoso autor de novelas da Rede Globo, escrevia na Veja”.
Walcyr, autor de novelas como Xica da Silva, na TV Manchete, e O Cravo e a Rosa, A Padroeira e Amor à Vida, na Rede Globo, tinha 64 anos e vivia em São Paulo em 2015. Um dos irmãos de Walcyr, Ney Carrasco, era Secretário de Cultura de Campinas na gestão 2012-2016. Certa vez, Ney remeteu a Dary uma foto da Sala São Paulo, instalada exatamente no local em que o empresário trabalhou na estação Júlio Prestes. No verso da foto, a inscrição: “Dary, para matar as saudades”. O terceiro irmão, Ailton, é químico e vivia em Santos.
Em suas crônicas, volta e meia, Walcyr Carrasco homenageava o pai: “Meu pai não era dado a expansões carinhosas. Talvez porque fosse criado em um meio em que homem não expressava os sentimentos. Talvez porque nunca tenha recebido muito carinho de seu próprio pai. Saiu de casa aos 13 anos e foi morar com um irmão. Teve um problema nos olhos e quase ficou cego, ainda adolescente. Mais tarde, quando quis continuar os estudos, já estava casado e com filhos. Era ferroviário, telegrafista”, escreveu Walcyr no livro Pequenos Delitos e outras crônicas, lançado em 2004. “Meu pai era um homem simples, mas teve grandeza. E, o mais importante, ele torcia por mim. Para mim, esse é o significado maior de um pai”.

Em Presidente Prudente, Dary convive com locutores esportivos, como José Italiano e Joseval Peixoto
“Em Presidente Prudente, os telegrafistas eram concentrados e “exportados” para outros lugares, de acordo com as necessidades da Sorocabana. Uns cobriam os outros em ausências, licenças médicas e férias. Conforme a regra, Dary foi deslocado para Teodoro Sampaio em novembro de 1960. Alcançou o lugarejo a bordo de um jipe, por rodovia improvisada, formada pelos sulcos que se abriam na terra vermelha para a colocação dos trilhos. Sua missão era assumir o posto de chefe de estação por três dias, liberando o titular, Bueno Arruda, para comparecer às urnas em Presidente Prudente.
Havia eleição para a presidência da República.
O chumbo era trocado entre Jânio, Adhemar e marechal Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott.
Jânio era o homem da vassoura, Adhemar acenava com um trevo e Lott brandia uma espada.
Por que o menino foi escolhido na emergência?
Era menor de idade e não votava. A ferrovia ainda estava em construção. Esse detalhe, por sinal, desfaz um engano: os trilhos não foram inaugurados em 1960, como consta erroneamente em alguns registros históricos, mas sim em 1961.
Na época, a população de Teodoro Sampaio era pequena e ocupava algumas casas em ruas de chão batido. O lugarejo pertencia ao município de Marabá Paulista. A estação ficava num ponto ermo e a caminhada até o centro era longa. Houve muita festa na chegada do primeiro trem em 1961. Foi preciso requisitar os serviços da banda de Presidente Venceslau – a chamada Corporação Musical Santa Cecília, que existe em centenas de cidades brasileiras.
Dary foi testemunha ocular da história. Teve um dia agitado. Participou da inauguração de uma estaçãozinha na região, chamada Washington Luís, e, em seguida, pegou um trem que o conduziu para o evento em Teodoro Sampaio.
Guarda até hoje um retrato, muito apagado, de uma casinha de cuja janela assistiu às comemorações.
O telégrafo tirou Teodoro Sampaio do completo isolamento. A comarca estava ilhada no fim do Estado de São Paulo, no bico do mapa, a dois passos do Mato Grosso. Sem telefone e sem rádio, foi salva pela engenhoca e deixou de ser incomunicável.
O primeiro aparelho utilizado no lugarejo era igual ao modelo pioneiro, criado em 1840. Durou muito. Serviu durante 140 anos nas ferrovias e foi extinto entre 1978 e 1980.
Nos modorrentos dias e noites do lugar, Dary manteve plantão para qualquer emergência, recebendo ou enviando um telegrama. A correspondência podia ser de qualquer gênero – fosse um aviso de morte, de casamento ou de visita à mãe distante. O destinatário recebia o telegrama em casa. O comércio, os bancos, a polícia – todos se comunicavam via telegrama. O Bradesco, toda tarde, recorria ao telégrafo para enviar as ordens de pagamento. Digitava-se de tudo naqueles teclados nervosos. Desde o comerciante, solicitando à fábrica Cica o envio de nova remessa de goiabada, até recados de amor, a respeito dos quais os discretos telegrafistas mantinham total sigilo. Havia atrasos, principalmente se o telegrama viesse de longe. No caso de falecimento, com um texto dizendo “venha depressa, mamãe morreu”, bastava olhar no verso para descobrir que o defunto estava enterrado há muito tempo. Alcançava-se, no máximo, a missa de sétimo dia. Adaptado à Presidente Prudente, conviveu com um pessoal cujas vozes seriam ouvidas nas melhores rádios e emissoras de TV do país: Flávio Araujo, Chico de Assis, Zé Italiano, Joseval Peixoto e Tadashi Kuriki – o primeiro narrador esportivo japonês do país, advogado, deputado estadual (1986) e federal (1994). Houve um momento em que todos estavam ali, juntos, iniciando a carreira nas rádios de Presidente Prudente.
A cidade, afinal, é conhecida como uma espécie de fábrica de locutores. Nos sete anos em que viveu no extremo oeste paulista, Dary frequentou os mesmos lugares que os futuros astros do microfone. Iam de bar em bar: Oásis, Shoyama e H (hoje H2). “Quando cheguei à Prudente, o Joseval Peixoto e o Flávio Araújo estavam mudando para São Paulo, Conheci o repórter Chico de Assis, que mais tarde se tornaria dono de rádio em Poços de Caldas”, lembrou Dary.
José Italiano havia iniciado a carreira em São Carlos, onde nasceu, e se mudara para o oeste paulista atrás de novas oportunidades na carreira de locutor esportivo. Era titular do microfone da rádio ZYR-84 de Prudente. Na época, os dois times da cidade – Prudentina e Corinthians – estavam no auge e brilhavam na Primeira Divisão paulista.
José Italiano era chamado de “garganta de aço” e “homem das mil e uma vozes”. Fazia sucesso. “Frequentávamos os mesmos bares e inclinávamos um copo”, divertiu-se Dary ao relembrar a amizade. Típico perfil de europeu, alto e loiro, o garoto telegrafista passou a ser chamado de Americano pelo radialista. A dupla se separou e só tiveram alguns breves reencontros em São Paulo. “Um dia, me encontrei com ele na Avenida Tiradentes e conversamos rapidamente. Depois, ficou famoso, incorporou a figura do torcedor corintiano, virou procurador de Rivelino e nas poucas vezes que nos cruzamos houve apenas aceno de mão e cumprimento com a cabeça”.
Dary chegou a fazer bicos nos jornais e nas rádios da cidade. “De duas em duas horas, recebíamos notícias, via Código Morse, das agências internacionais UPI, France Press, Ansa, Tass e da brasileira Sport Press. Transcrevíamos em laudas e passávamos para o redator do jornal ou locutor do jornal falado”, conta o empresário. “As principais notícias da época estão gravadas na memória – Fidel Castro toma o poder de Fulgencio Batista em Cuba, piora a guerra fria Estados Unidos e Rússia, a agonia do Papa João XXIII, a execução de Caryl Chessman na câmara de gás em 1960, o assassinato de John Kennedy em 1963, as guerras do Camboja e do Vietnã”.
Na mesma época, Adhemar de Barros chegou a Presidente Prudente para participar de um comício. O presidente local do Partido Social Progressista, Antônio de Almeida dos Santos, montou uma recepção de gala para o governador em sua própria casa. Dary, adhemarista de carteirinha, compareceu ao evento de campanha.
Então um amigo, entusiasmado com a atmosfera eleitoreira, gritou no meio da multidão. “Governador, eis aqui um conterrâneo do senhor”. Adhemar, engolfado por correligionários, respondeu: “De que família?”. E Dary abriu a boca: “Sou neto do Bonomi, da fazenda Redenção”. O governador deu uma gargalhada, falando: “Oba, meu cozinheiro!” Deu um abraço em Dary e o colocou ao seu lado, na mesa em que atendia, um a um, os eleitores. Pediu dois copos e brindaram o encontro. Dary inclinou o copo e entornou tudo de uma só vez.
O governador gostou: “Menino, você é bom nisso”.
E o telegrafista respondeu: “Um dia, chego lá”.
Dary residiu em Presidente Prudente durante sete anos e depois foi para São Paulo em 1965.”

Serviço:
Local: Espaço do Bosque – Rua Werner Von Siemens, 111, Lapa de Baixo, São Pauo
Data: 09 de dezembro de 2015, 19h

O LIVRO
Ficha Técnica
Título: Do Telégrafo à Internet – A trajetória de Dary Bonomi Avanzi
Autor: Marcos Barrero
Idiomas: Português/inglês
Edição: 1ª
Nº de págs.: 144
Editora: L2M/SP
Preço: RS 49,90

Uma aula de Comunicação

Empresário Dary Avanzi descreve em palestra a trajetória da comunicação, do telégrafo a internet
O diretor geral do Grupo Avanzi, Dary Bonomi Avanzi, realizou no ano de 2012, uma palestra no Clube Galeria em Teodoro Sampaio a convite da Etec Nair Luccas Ribeiro e da Secretaria de Cultura da cidade. Profissional experiente e inovador, Dary está à frente de uma empresa de serviços de consultoria na área de radiocomunicação e de prestação de serviços junto a Anatel Agência Nacional de Telecomunicações. Um exemplo de longevidade no setor de telecomunicações, Dary passou de um meio de comunicação para outro, partindo do telégrafo um instrumento indispensável em meados do século passado – até a atualidade, completamente adaptado às transformações produzidas pela internet num mundo de comunicação globalizada. Em sua carteira de clientes na empresa, o empresário soma mais de 400 empresas apenas no setor sucroalcooleiro e outras empresas, de vários setores, espalhadas pelo país.uma-aula-de-omunicação
Iniciou a carreira como telegrafista, ainda menor de idade, na Estrada de Ferro Sorocabana, na qual permaneceu de 1956 a 1976. Em seguida, atuou na área governamental, integrando a estrutura de comunicação do Palácio Bandeirantes, do governo do estado de São Paulo.
Dary ministra cursos treinamentos em comunicação, prospecção de sinal e transmissão de dados em rádio. Realiza estudos de viabilidade técnica de radiocomunicação e de computador de bordo. Ao deixar a comunicação do governo estadual, em 1998, ele decidiu se dedicar integralmente à sua empresa. Eis os principais trechos da palestra de Dary Avanzi, organizada pela diretora de Cultura do município, Débora Luz, e o professor João Maria de Souza.

TRAJETÓRIA ATÉ TEODORO SAMPAIO

“Eu estudei em Botucatu de 1956 a 1958. Formei-me telegrafista. Logo arrumei emprego e fui nomeado para trabalhar na cidade Presidente e Prudente em 1958. A cidade funcionava como sede. Ali, os telegrafistas eram concentrados e “exportados” para outros lugares, conforme a necessidade. Ausências, férias, licenças médicas. Cheguei a Teodoro Sampaio em 1960. Vim substituir a pessoa encarregada da estação quando a ferrovia estava em construção. Era 1960 e havia eleição para Presidente da República. Como eu era menor idade e não votava, vim de jipe para assumir o posto por três dias, liberando o chefe de estação, Bueno Arruda, para comparecer às urnas em Presidente Prudente. Esse detalhe desfaz um engano histórico: a ferrovia não foi inaugurada em 1960, como querem alguns, mas sim em 1961, ano seguinte à minha chegada a bordo de um jipe, por rodovia, pelos cortes por onde se abriam os sulcos pelas quais passariam os trilhos”.

TELEGRAFISTA MAIS NOVO

“Fui o telegrafista mais novo da ferrovia. Os ferroviários mais velhos brincavam quando chegava um funcionário novo. Me disseram na apresentação a outros colegas: ‘Esse é o Dary, chegou agora e vai se aposentar em 1988’. A gente olhava no tempo e pensava: ‘Será que eu chego lá’. Era uma brincadeira e parecia muito distante. Quando falamos em 50 anos, parece algo muito distante. Ao alcançar o marco, parece que tudo aconteceu antes. Faz 52 anos que eu estive aqui, no começo da ferrovia. Lembro alguns nomes até hoje. O chefe da estação se chamava”.

A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE TEODORO

“Lembro que a caminhada era longa da estação até o centro. Não sei a população na época. Inauguração da Estação Ferroviária - ano 1961Não era município. Em 1961, a chegada do primeiro trem teve festividades e foi preciso requisitar os serviços da banda de Presidente Venceslau. Eu fui testemunha ocular da história: participei da inauguração de uma estaçãozinha na região, chamada Washington Luís, e, em seguida, peguei um trem que me trouxe para o evento em Teodoro Sampaio. Saí numa foto, na janela de uma casinha perto do local das comemorações. Guardo o retrato até hoje, muito apagado. Permaneci em Teodoro uns 40 minutos e depois segui de trem para Presidente Prudente”.

O PRIMEIRO TELÉGRAFO DA CIDADE

“Com o telégrafo, Teodoro Sampaio – sem telefone e sem rádio – não era mais incomunicável. O primeiro aparelho de Teodoro Sampaio é igual ao modelo pioneiro, criado em 1840. Só foi extinto nas ferrovias entre 1978 e 1980. Ou seja, ele foi utilizado durante 140 anos. Surgiu coisa nova depois, criaram outro? O que veio depois, por fruto do acaso, foi o telefone. O inventor Graham Bell e um assistente faziam teste de melhoria do próprio telégrafo quando se ouviu uma voz, do outro lado. As pesquisas seguintes culminaram no novo meio de comunicação em 1876. Com as ondas eletromagnéticas, descoberta por Marconi em 1892, veio a telegrafia sem fio, ligando grandes distâncias e servindo sobretudo o contato com navios. Demorava-se anos e anos para passar de uma tecnologia para outra, ao contrário de hoje, em que as transformações são rápidas. Veja-se o exemplo do celular: em meses, um lançamento supera outro nas lojas”.

O TELEGRAMA

“Lembro-me bem que vim para Teodoro Sampaio como guardião e protetor do patrimônio da ferrovia. Fiquei de plantão para qualquer emergência, para receber ou enviar um telegrama. Eis um meio de comunicação que desapareceu. O que era um telegrama? Uma forma de mandar uma mensagem, por escrito, via ferrovia, para outra pessoa. Era o único meio de comunicação, não havia outro. O interessado comparecia ao setor de telegrafia da estação de trem e ditava a mensagem ao telegrafista. A correspondência podia ser de qualquer gênero – fosse um aviso de morte, de casamento ou de visita à mãe distante. A mensagem, digitada no telégrafo, seguia de forma indireta. Por exemplo: remetida de Teodoro Sampaio, ia para Presidente Prudente e, de lá, para São Paulo. Na capital paulista, a correspondência era encaminhada aos Correios, via teletipo, e por fim remetida ao Rio de Janeiro, o destino final. A pessoa recebia o telegrama em casa. Como era ele? Um papel, em geral grampeado, com a mensagem escrita por dentro. O comércio, os bancos, a polícia – todos se comunicavam via telegrama. O Bradesco, toda tarde, levava as ordens de pagamento. Desde o comerciante, solicitando à fábrica Cica o envio de nova remessa de goiabada, até recados de amor, a respeito dos quais mantínhamos total sigilo. Havia atrasos, principalmente se o telegrama vinha de longe. No caso de falecimento, com um texto dizendo “venha depressa, mamãe morreu”, estes tinham prioridade.

O TELETIPO

“Veio, então, o teletipo. Consistia numa fita que saía escrita e era colada no papel. A transmissão ocorria por fio, num raio de 300 quilômetros, no máximo. Qualquer alteração climática alterava e truncava o texto. Enquanto perdurava os defeitos, os telegramas nesses trechos seguiam pelo telégrafo que era o meio de redundância. Criou-se, em seguida, o teletipo por ondas eletromagnéticas, via rádio. Melhorou muito. Nos anos 1950, chegou o telex, que teve vida curta. Até 1965, o cidadão ia pela manhã até uma central telefônica para fazer uma ligação e ouvia da atendente que tinha que voltar à tarde, quando chegaria sua vez. Mesmo que a pessoa tivesse uma linha e o aparelho em casa, era preciso pedir uma ligação, que demorava de acordo com a distância. Vinte anos depois, apareceu o DDD – Discagem Direta à Distância, novidade no Brasil lançada no estado do Paraná. O DDI – Discagem Direta Internacional – foi inaugurado no país na cidade paranaense de Maringá”.

DO RÁDIO A INTERNET

“Em 1892, o físico italiano Guglielmo Marconi, avançando nas pesquisas feitas por Hertz – o inventor das ondas eletromagnéticas – descobriu que era possível transmitir sinais à distância com antenas sem fios. Fez vários experimentos, com aparelhos rudimentares, e viu que, quanto mais subia a antena, maior distância alcançava. Logo, Marconi obteve a primeira patente para o invento, que recebeu o nome de radiotelegrafia. Ou seja, telégrafo sem fio. Aperfeiçoou seu invento e, no princípio do século XX, criou um emissor que produziu uma onda regular contínua e foi possível transmitir os sinais em código Morse.
Em 1906, o americano Lee De Forest criou a válvula elétrica, melhorando o som transmitido. Permitiu a utilização das ondas eletromagnéticas propapando informações sonoras. A partir daí, começaram as transmissões radiofônicas. A radiofonia surgiu da radiotelegrafia de Marconi. No Brasil, a comunicação pública por rádio, pelo sistema de ondas AM – Amplitude Modulada – surgiu em 1923. A primeira emissora brasileira foi a Rádio Sociedade, do Rio de Janeiro. O advento do AM foi fundamental para a implantação da radiocomunicação no país, sobretudo na zona rural. Era o chamado rádio falado, usado para estabelecer uma conversa, um diálogo entre dois pontos distantes. Os fazendeiros falavam entre si através do novo meio, trocando informações e fazendo negócios.
Em 1967, o SSB – um novo sistema de comunicação via rádio, de viva voz – revolucionou este tipo de comunicação privada. Deste modo, as empresas, as fazendas foram adotando o rádio e abandonando a telegrafia. O motivo era simples: a telegrafia exigia um profissional com domínio de uma linguagem e uma técnica, enquanto o rádio dispensava qualquer preparo ou estudo. Bastava ligar o aparelho e falar. O passo seguinte foi a instalação do telefone nas cidades e nas zonas rurais próximas. Na década de 1990, enfim chegou o celular. Em 1998, houve a explosão e a popularização dos computadores, em suas várias formas e recursos, dando vida a essa extraordinária rede chamada”.

O CÓDIGO MORSE

“Todo recurso de comunicação tem o Código Morse na origem. Até no celular temos transmissões em Morse. Meu aparelho, por exemplo, no instante em que chama, fornece o telefone de quem ligou na forma do código. Ele foi extinto, pois hoje em dia não comportaria as várias baldeações para chegar até ao destino, a radiotelegrafia é rápida quando de ponto a ponto, A internet superou tudo isso, com o envio de mensagem online, da minha mesa para outra mesa, localizada em qual quer par t e do mundo. Por enquanto. Daqui a alguns anos, vão lembrar que as pessoas ficavam diante de uma tela e enviavam mensagens, digitavam, tinham que startar, abrir o e-mail para ler a correspondência. O que vai acontecer lá na frente? Uma pessoa vai pensar e a outra vai receber a mensagem. Em 1990, ninguém acreditava que o celular era possível. As futuras gerações vão rir de nós”.

AGONIA DO TREM

“A tecnologia evolui muito, mas a ferrovia retrocedeu. Me sinto decepcionado quando me aproximo de uma ferrovia. Aliás, extinguiram a ferrovia. O ramal de Dourados era algo fantástico, uma iniciativa do governador de então, Estações do Ramal de DouradosAdhemar Pereira de Barros. O ramal estagnou e, com a decadência desse meio de transporte, os trilhos foram arrancados, frustrando os entusiastas do trem. Acabaram com a esperança. Em tom de piada, dizem que tudo começou no governo JK – de Juscelino Kubitscheck. Ao assumir a presidência da República, em 1960, ele teria recebido dois empresários, um alemão e um americano. A dupla lhe fez a proposta de instalar a indústria automobilística no Brasil. JK topou, mas eles disseram: “Só que tem uma coisa.”. E JK, esperto, entendeu: “Eu sei do que se trata…” Era a ferrovia atravancando o caminho do carro. E, a partir de então, a política oficial do governo brasileiro privilegiou o automóvel em detrimento do trem como meio de transporte”.

BUG DO MILÊNIO

“A rigor, toda a comunicação eletrônica atual está presa aos satélites e está sujeita a riscos. Pode ser extinta em um minuto. Se um louco ou mal intencionado, de posse de equipamentos sofisticados, bombardear o sistema de satélites que gravita em torno da terra, ficaremos sem comunicação. Some tudo: radiocomunicação, telefonia, internet, rádio e TV, entre outros meios. Apenas a telegrafia pode sobreviver em uma situação parecida com essa. Não foi à toa que, por ocasião do bug do milênio, na passagem do século, de 1999 para 2000, minha empresa foi contratada por um grupo multinacional, instalado no Brasil, para montar um sistema de rádio em todas as suas fábricas no Brasil, por precaução. Montamos um sistema muito grande, que funcionou de 31 de dezembro de 1999 a 1 de janeiro de 2000. Felizmente, nada aconteceu e o sistema foi desativado em seguida”.

Marcos Barrero Jornalista presente no evento.

Entrevista com Dary Bonomi Avanzi ao programa Estúdio Aberto da TV Cidade

Dary Bonomi Avanzi conta sobre sua trajetória profissional de mais de meio século. Dary Bonomi Avanzi é telegrafista, radiotelegrafista, morsista, teletypista e telexista.
Dary Bonomi Avanzi é conhecedor de mais de seis telégrafos com e sem fios, via rádio; teletype com e sem fio, via rádio; telex com e sem fio, via microondas; fax; internet.
Credenciado pelo Ministério das Comunicações/Anatel como radioamador classe “A”, indicativo PY2MS e com contatos via rádio em mais de 200 países.
Credenciado pelo Ministério das Comunicações para operar equipamentos de rádio a nível internacional, em terra, ar e mar.