Empresário Dary Avanzi descreve em palestra a trajetória da comunicação, do telégrafo a internet
O diretor geral do Grupo Avanzi, Dary Bonomi Avanzi, realizou no ano de 2012, uma palestra no Clube Galeria em Teodoro Sampaio a convite da Etec Nair Luccas Ribeiro e da Secretaria de Cultura da cidade. Profissional experiente e inovador, Dary está à frente de uma empresa de serviços de consultoria na área de radiocomunicação e de prestação de serviços junto a Anatel Agência Nacional de Telecomunicações. Um exemplo de longevidade no setor de telecomunicações, Dary passou de um meio de comunicação para outro, partindo do telégrafo um instrumento indispensável em meados do século passado – até a atualidade, completamente adaptado às transformações produzidas pela internet num mundo de comunicação globalizada. Em sua carteira de clientes na empresa, o empresário soma mais de 400 empresas apenas no setor sucroalcooleiro e outras empresas, de vários setores, espalhadas pelo país.
Iniciou a carreira como telegrafista, ainda menor de idade, na Estrada de Ferro Sorocabana, na qual permaneceu de 1956 a 1976. Em seguida, atuou na área governamental, integrando a estrutura de comunicação do Palácio Bandeirantes, do governo do estado de São Paulo.
Dary ministra cursos treinamentos em comunicação, prospecção de sinal e transmissão de dados em rádio. Realiza estudos de viabilidade técnica de radiocomunicação e de computador de bordo. Ao deixar a comunicação do governo estadual, em 1998, ele decidiu se dedicar integralmente à sua empresa. Eis os principais trechos da palestra de Dary Avanzi, organizada pela diretora de Cultura do município, Débora Luz, e o professor João Maria de Souza.
TRAJETÓRIA ATÉ TEODORO SAMPAIO
“Eu estudei em Botucatu de 1956 a 1958. Formei-me telegrafista. Logo arrumei emprego e fui nomeado para trabalhar na cidade Presidente e Prudente em 1958. A cidade funcionava como sede. Ali, os telegrafistas eram concentrados e “exportados” para outros lugares, conforme a necessidade. Ausências, férias, licenças médicas. Cheguei a Teodoro Sampaio em 1960. Vim substituir a pessoa encarregada da estação quando a ferrovia estava em construção. Era 1960 e havia eleição para Presidente da República. Como eu era menor idade e não votava, vim de jipe para assumir o posto por três dias, liberando o chefe de estação, Bueno Arruda, para comparecer às urnas em Presidente Prudente. Esse detalhe desfaz um engano histórico: a ferrovia não foi inaugurada em 1960, como querem alguns, mas sim em 1961, ano seguinte à minha chegada a bordo de um jipe, por rodovia, pelos cortes por onde se abriam os sulcos pelas quais passariam os trilhos”.
TELEGRAFISTA MAIS NOVO
“Fui o telegrafista mais novo da ferrovia. Os ferroviários mais velhos brincavam quando chegava um funcionário novo. Me disseram na apresentação a outros colegas: ‘Esse é o Dary, chegou agora e vai se aposentar em 1988’. A gente olhava no tempo e pensava: ‘Será que eu chego lá’. Era uma brincadeira e parecia muito distante. Quando falamos em 50 anos, parece algo muito distante. Ao alcançar o marco, parece que tudo aconteceu antes. Faz 52 anos que eu estive aqui, no começo da ferrovia. Lembro alguns nomes até hoje. O chefe da estação se chamava”.
A INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO DE TEODORO
“Lembro que a caminhada era longa da estação até o centro. Não sei a população na época. Não era município. Em 1961, a chegada do primeiro trem teve festividades e foi preciso requisitar os serviços da banda de Presidente Venceslau. Eu fui testemunha ocular da história: participei da inauguração de uma estaçãozinha na região, chamada Washington Luís, e, em seguida, peguei um trem que me trouxe para o evento em Teodoro Sampaio. Saí numa foto, na janela de uma casinha perto do local das comemorações. Guardo o retrato até hoje, muito apagado. Permaneci em Teodoro uns 40 minutos e depois segui de trem para Presidente Prudente”.
O PRIMEIRO TELÉGRAFO DA CIDADE
“Com o telégrafo, Teodoro Sampaio – sem telefone e sem rádio – não era mais incomunicável. O primeiro aparelho de Teodoro Sampaio é igual ao modelo pioneiro, criado em 1840. Só foi extinto nas ferrovias entre 1978 e 1980. Ou seja, ele foi utilizado durante 140 anos. Surgiu coisa nova depois, criaram outro? O que veio depois, por fruto do acaso, foi o telefone. O inventor Graham Bell e um assistente faziam teste de melhoria do próprio telégrafo quando se ouviu uma voz, do outro lado. As pesquisas seguintes culminaram no novo meio de comunicação em 1876. Com as ondas eletromagnéticas, descoberta por Marconi em 1892, veio a telegrafia sem fio, ligando grandes distâncias e servindo sobretudo o contato com navios. Demorava-se anos e anos para passar de uma tecnologia para outra, ao contrário de hoje, em que as transformações são rápidas. Veja-se o exemplo do celular: em meses, um lançamento supera outro nas lojas”.
O TELEGRAMA
“Lembro-me bem que vim para Teodoro Sampaio como guardião e protetor do patrimônio da ferrovia. Fiquei de plantão para qualquer emergência, para receber ou enviar um telegrama. Eis um meio de comunicação que desapareceu. O que era um telegrama? Uma forma de mandar uma mensagem, por escrito, via ferrovia, para outra pessoa. Era o único meio de comunicação, não havia outro. O interessado comparecia ao setor de telegrafia da estação de trem e ditava a mensagem ao telegrafista. A correspondência podia ser de qualquer gênero – fosse um aviso de morte, de casamento ou de visita à mãe distante. A mensagem, digitada no telégrafo, seguia de forma indireta. Por exemplo: remetida de Teodoro Sampaio, ia para Presidente Prudente e, de lá, para São Paulo. Na capital paulista, a correspondência era encaminhada aos Correios, via teletipo, e por fim remetida ao Rio de Janeiro, o destino final. A pessoa recebia o telegrama em casa. Como era ele? Um papel, em geral grampeado, com a mensagem escrita por dentro. O comércio, os bancos, a polícia – todos se comunicavam via telegrama. O Bradesco, toda tarde, levava as ordens de pagamento. Desde o comerciante, solicitando à fábrica Cica o envio de nova remessa de goiabada, até recados de amor, a respeito dos quais mantínhamos total sigilo. Havia atrasos, principalmente se o telegrama vinha de longe. No caso de falecimento, com um texto dizendo “venha depressa, mamãe morreu”, estes tinham prioridade.
O TELETIPO
“Veio, então, o teletipo. Consistia numa fita que saía escrita e era colada no papel. A transmissão ocorria por fio, num raio de 300 quilômetros, no máximo. Qualquer alteração climática alterava e truncava o texto. Enquanto perdurava os defeitos, os telegramas nesses trechos seguiam pelo telégrafo que era o meio de redundância. Criou-se, em seguida, o teletipo por ondas eletromagnéticas, via rádio. Melhorou muito. Nos anos 1950, chegou o telex, que teve vida curta. Até 1965, o cidadão ia pela manhã até uma central telefônica para fazer uma ligação e ouvia da atendente que tinha que voltar à tarde, quando chegaria sua vez. Mesmo que a pessoa tivesse uma linha e o aparelho em casa, era preciso pedir uma ligação, que demorava de acordo com a distância. Vinte anos depois, apareceu o DDD – Discagem Direta à Distância, novidade no Brasil lançada no estado do Paraná. O DDI – Discagem Direta Internacional – foi inaugurado no país na cidade paranaense de Maringá”.
DO RÁDIO A INTERNET
“Em 1892, o físico italiano Guglielmo Marconi, avançando nas pesquisas feitas por Hertz – o inventor das ondas eletromagnéticas – descobriu que era possível transmitir sinais à distância com antenas sem fios. Fez vários experimentos, com aparelhos rudimentares, e viu que, quanto mais subia a antena, maior distância alcançava. Logo, Marconi obteve a primeira patente para o invento, que recebeu o nome de radiotelegrafia. Ou seja, telégrafo sem fio. Aperfeiçoou seu invento e, no princípio do século XX, criou um emissor que produziu uma onda regular contínua e foi possível transmitir os sinais em código Morse.
Em 1906, o americano Lee De Forest criou a válvula elétrica, melhorando o som transmitido. Permitiu a utilização das ondas eletromagnéticas propapando informações sonoras. A partir daí, começaram as transmissões radiofônicas. A radiofonia surgiu da radiotelegrafia de Marconi. No Brasil, a comunicação pública por rádio, pelo sistema de ondas AM – Amplitude Modulada – surgiu em 1923. A primeira emissora brasileira foi a Rádio Sociedade, do Rio de Janeiro. O advento do AM foi fundamental para a implantação da radiocomunicação no país, sobretudo na zona rural. Era o chamado rádio falado, usado para estabelecer uma conversa, um diálogo entre dois pontos distantes. Os fazendeiros falavam entre si através do novo meio, trocando informações e fazendo negócios.
Em 1967, o SSB – um novo sistema de comunicação via rádio, de viva voz – revolucionou este tipo de comunicação privada. Deste modo, as empresas, as fazendas foram adotando o rádio e abandonando a telegrafia. O motivo era simples: a telegrafia exigia um profissional com domínio de uma linguagem e uma técnica, enquanto o rádio dispensava qualquer preparo ou estudo. Bastava ligar o aparelho e falar. O passo seguinte foi a instalação do telefone nas cidades e nas zonas rurais próximas. Na década de 1990, enfim chegou o celular. Em 1998, houve a explosão e a popularização dos computadores, em suas várias formas e recursos, dando vida a essa extraordinária rede chamada”.
O CÓDIGO MORSE
“Todo recurso de comunicação tem o Código Morse na origem. Até no celular temos transmissões em Morse. Meu aparelho, por exemplo, no instante em que chama, fornece o telefone de quem ligou na forma do código. Ele foi extinto, pois hoje em dia não comportaria as várias baldeações para chegar até ao destino, a radiotelegrafia é rápida quando de ponto a ponto, A internet superou tudo isso, com o envio de mensagem online, da minha mesa para outra mesa, localizada em qual quer par t e do mundo. Por enquanto. Daqui a alguns anos, vão lembrar que as pessoas ficavam diante de uma tela e enviavam mensagens, digitavam, tinham que startar, abrir o e-mail para ler a correspondência. O que vai acontecer lá na frente? Uma pessoa vai pensar e a outra vai receber a mensagem. Em 1990, ninguém acreditava que o celular era possível. As futuras gerações vão rir de nós”.
AGONIA DO TREM
“A tecnologia evolui muito, mas a ferrovia retrocedeu. Me sinto decepcionado quando me aproximo de uma ferrovia. Aliás, extinguiram a ferrovia. O ramal de Dourados era algo fantástico, uma iniciativa do governador de então, Adhemar Pereira de Barros. O ramal estagnou e, com a decadência desse meio de transporte, os trilhos foram arrancados, frustrando os entusiastas do trem. Acabaram com a esperança. Em tom de piada, dizem que tudo começou no governo JK – de Juscelino Kubitscheck. Ao assumir a presidência da República, em 1960, ele teria recebido dois empresários, um alemão e um americano. A dupla lhe fez a proposta de instalar a indústria automobilística no Brasil. JK topou, mas eles disseram: “Só que tem uma coisa.”. E JK, esperto, entendeu: “Eu sei do que se trata…” Era a ferrovia atravancando o caminho do carro. E, a partir de então, a política oficial do governo brasileiro privilegiou o automóvel em detrimento do trem como meio de transporte”.
BUG DO MILÊNIO
“A rigor, toda a comunicação eletrônica atual está presa aos satélites e está sujeita a riscos. Pode ser extinta em um minuto. Se um louco ou mal intencionado, de posse de equipamentos sofisticados, bombardear o sistema de satélites que gravita em torno da terra, ficaremos sem comunicação. Some tudo: radiocomunicação, telefonia, internet, rádio e TV, entre outros meios. Apenas a telegrafia pode sobreviver em uma situação parecida com essa. Não foi à toa que, por ocasião do bug do milênio, na passagem do século, de 1999 para 2000, minha empresa foi contratada por um grupo multinacional, instalado no Brasil, para montar um sistema de rádio em todas as suas fábricas no Brasil, por precaução. Montamos um sistema muito grande, que funcionou de 31 de dezembro de 1999 a 1 de janeiro de 2000. Felizmente, nada aconteceu e o sistema foi desativado em seguida”.
Marcos Barrero Jornalista presente no evento.