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A radiotelegrafia foi útil até o fim oficial

No final de 1999, os especialistas não tinham dúvidas. Diagnosticavam a aposentadoria do Código Morse em todos os navios do mundo. O setor naval era então o último segmento que ainda fazia uso desse meio de comunicação. Porém, súbito, surgiu a preocupação com o bug do milênio. As empresas ficaram com receio de que pudesse acontecer um colapso total nos computadores e afins no instante da virada do século. Convocaram seus técnicos e começaram a pensar em alternativas. Afinal, poderia ocorrer uma pane total, que emudeceria o país.

No Brasil, uma multinacional recebeu a seguinte orientação da matriz inglesa: “Analisando todos os meios de comunicação, entendemos que a ameaça do bug do milênio pode aniquilar as conexões e transmissões via internet, telefones, fax etc. A única opção que temos é a radiotelegrafia, capaz de manter o contato entre nossas fábricas, munida de baterias, pois não podemos depender também de energia elétrica”.

Nesse contexto emergencial, fui procurado por um emissário da multinacional e contratado para dotar suas fábricas de um sistema de radiotelegrafia tecnicamente capacitado e equipado para dar cobertura às instalações da empresa nas regiões Nordeste, Centro Oeste e Sudoeste. Não foi difícil. Encontrei, dentro do radioamadorismo, vários ex-radiotelegrafistas dispostos a integrar um batalhão eletrônico e enfrentar o tal bug do milênio. Com eles, formamos uma rede de emergência. O QG foi instalado em minha residência, em São Paulo, onde ficamos em contato permanente de 31 de dezembro de 1999 até às 4 horas de 1 de janeiro de 2000. Felizmente, não houve qualquer problema relativo ao bug do milênio e desfizemos o batalhão eletrônico. Detalhe curioso: no dia em que se extinguia do ar (sua paralisação oficial ocorreu no dia 1 de janeiro de 2000), a radiotelegrafia estava ativa, servindo como salvadora da pátria a uma grande multinacional.

 

Por Dary Bonomi Avanzi